Essa semana tive momentos de nostalgia e lembrei dos velhos e bons tempos de criança...
E aí eu percebi o quanto foi boa essa fase, uma infância inocente, ingênua, pura e acima de tudo, sadia!!!
Ontem eu e minha irmã Betânia, conversamos sobre isso e voltamos no tempo...relembramos muitas coisas...simples...do dia a dia de crianças sem muitas opções, mas com o mundo a nossa volta, então me lembrei da música dos Backyardigans (desenho infantil que Enzo assiste de vez em quando!) que diz o seguinte:
"Temos o mundo inteiro no nosso quintal
Sempre encontrando coisas novas para brincar..."
E era assim mesmo, na ausência de tudo, nós inventávamos e reinventávamos todos os dias no nosso quintal, que era um sítio bem pequeno limitado pelos fundos da casa, por uma rede de esgoto, uma cerca do vizinho e o rio Ipojuca. Nossa, nós aprontávamos muito todos os dias, brincávamos de índio, de guerra, de escola, de esconde-esconde, de casinha, de balanço, de inventor... tanta coisa...teve um dia que, imaginamos que havia um intruso que vinha mexer em nossos "brinquedos" à noite e resolvemos fazer uma armadilha. O sítio tinha uma trilha e no lugar onde havia mais mato e pés de banana, resolvemos cavar um buraco bem fundo e encher com lama, daí cobrimos a armadilha com folhas para "pegar" o intruso... e daí que depois de dois dias nada havia acontecido, então praticamente esquecemos dela. No terceiro dia começamos a brincar de correr... minha prima Márcia (filha de tio Zé Alberto) tinha um cachorrinho bem branquinho e bem pequeno chamado Tobby (em homenagem ao Tobby do Balão Mágico) e ele adorava correr atrás da gente, e assim, um a um começou a correr pela trilha e pular a armadilha e nessa estória, Tobby sobrou e pisou bem em cima da armadilha, como ele era pequeno, só ficou com a cabeça de fora gritando... quando olhamos para trás, ninguém aguentou de tanto rir do bichinho... lembro como se fosse hoje, meu primo Marcelo pegando ele pelas duas patinhas e levantando... o bichinho estava todo sujo de lama... e o problema depois disso era: como contar para a minha tia, pois ela havia dado banho nele naquele dia!
O problema era que nós apanhávamos por qualquer coisa, já era normal, não era espancamento, mais umas boas chineladas, beliscões e para os casos mais graves, uma "piza" de cinto básica... mas o interessante disso é que sobrevivemos a tudo isso sem traumas, sem psicólogos e sem bullyng!
Assim, não poderia falar da minha infância sem mencionar o sítio da minha vó no Engenho Barra, lá vivi os melhores e mais intensos dias da minha infância... se o meu quintal era do tamanho do mundo, o sítio para mim era do tamanho do universo diante de tantas possibilidades inimagináveis, mas acima de tudo criativas. Lembro que eu, meus irmãos e vários dos meus primos e primas chegávamos lá no primeiro dia de férias e lá as férias eram mais que perfeitas, detalhe: não havia energia e nem água encanada!
Eu, vó e Enzo ainda bebezinho! |
A diferença é que esses pequenos detalhes não eram vistos como problemas, mas como novas possibilidades de brincadeiras. À noite, nada melhor do que fogueira, lua cheia e escuridão para contar estórias de terror, casos estranhos do passado e "causos" inventados. Os contadores de estórias era meus avós e um senhor que agora não me recordo mais do nome, mas que aprendi a gostar de estórias de cordel com ele, pois todas as suas estórias eram rimadas, pois adorava e era um colecionador da literatura de Cordel.
E a falta de água era o melhor motivo para tomar banho de rio, de bica e de "cacimbão" do sítio... um local especialmente reservado para as mulheres por ser bem escondido e nos dando um pouco mais de privacidade!
Era nessa casinha simples que os netos se abrigavam, hoje fiquei tentando imaginar como cabiam tantos! |
Depois de tantas lembranças, não aguentei, fui correndo para casa de voinha hoje, só para vê-la, escutar suas estórias e recordarmos juntas esses dias maravilhosos e, de uma coisa tenho certeza e concordo com o que minha irmã disse ontem: minha avó tem hoje 91 anos e está passando por essa vida sem reclamar de nada! Digo isso porque por conta da idade, ela já não enxerga mais... no entanto, lembra de tudo e de todos! Por conta da visão ela já não tem mais condições de cozinhar, uma de suas paixões, nem de costurar ou varrer o "terreiro" todos os dias quando acordava às 4 da manhã, e quando acordávamos, já tinha cheiro de café torrado por ela na mesa, comidinha simples, mas extremamente maravilhosa, do jeito que só ela sabia fazer!
E hoje, como ontem, foi um dia de recordar... e recordar é viver!!!
As galinhas e pintos que sobreviveram à nos!! |
Entrada do sítio! |
Lembro que no sítio meus avós criavam vacas, cabras, galinhas e patos e é claro que nos dias festivos um desses acabava indo para o fogão e aí que me apaixonei por um pato pois cuidava dele com um carinho todo especial e nesse dia havia chegado a sua hora de ir para a panela... foi um "Deus nos acuda", uma confusão para que ele não fosse morto, mas não teve jeito, minha avó tratou de torcer seu pescoço, imagina a cena que eu vi: ele não havia morrido, acho que ele ficou desmaiado e de repente saiu correndo com o pescoço caído para o lado e minha avó correndo atrás dele. E eu dizia: o bichinho tá vivo, ele tá vivo!
Resposta da minha avó: tira essa menina daqui senão, enquanto ela tiver pena desse pato, ele não morre!
No final das contas: vi o bichinho pela última vez esquartejado no prato dos meus primos na hora almoço! (rsrsrs) Mas sobrevivi!
Em outro momento eu e minhas primas Rosinha e Rosana, fomos as algozes de um pintinho que escolhemos para brincarmos de "cozinhado", ou seja, matamos, limpamos e colocamos na panela para "almoçarmos" quando estávamos brincando de casinha... no final da tarde, minha avó contou os pintinhos e notou a diferença, mas eis a conclusão que ela chegou: deve ter sido raposa ou cobras que pegaram ele... e nós, caladas estávamos e caladas ficamos... só hoje ela descobriu quem tinham sido as raposas e as cobras que devoraram o pintinho (rsrsrs).
São tantas estórias, minhas, dos meus irmãos, dos meus primos, daria até um livro... quem sabe né? memórias da nossa infância simples e feliz!
No entanto, o que me entristece é saber que meus filhos nunca terão uma infância livre e criativa, eles podem até ser felizes, mas tenho certeza que o processo de descoberta do mundo, da criatividade, do improviso talvez eles nunca tenham a oportunidade de vivenciar!
Dandara ainda pequena tomando banho de rio! |
Excursão de bike rumo à casa de vó! |
A recompensa depois das pedaladas! |
Obrigada vó querida por me proporcionar os melhores dias da minha infância, por seu carinho e amor desmedido, por me ajudar a ser a pessoa que sou hoje, pois na sua simplicidade nos deu tantas lições de vida e sobre isso ela me dizia hoje... mas eu sou uma analfabeta...e eu respondia, mas a senhora sabe tanta coisa, me ensinou tanta coisa, curou tantos netos e bisnetos com suas receitas... queria fazê-la entender o quanto é sábia e importante para nós!
Mas tenho certeza que ela sabe o quanto é amada e querida por todos, por isso fiz questão de dizer o quanto é amada por mim e que ela fez diferença para tornar minha infância mais feliz!
Que linda Isabel. È tão bom recordar a infância.
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