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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Eu era feliz... e sabia!!!!

Essa semana tive momentos de nostalgia e lembrei dos velhos e bons tempos de criança...
E aí eu percebi o quanto foi boa essa fase, uma infância inocente, ingênua, pura e acima de tudo, sadia!!!
Ontem eu e minha irmã Betânia, conversamos sobre isso e voltamos no tempo...relembramos muitas coisas...simples...do dia a dia de crianças sem muitas opções, mas com o mundo a nossa volta, então me lembrei da música dos Backyardigans (desenho infantil que Enzo assiste de vez em quando!) que diz o seguinte:

"Temos o mundo inteiro no nosso quintal
Sempre encontrando coisas novas para brincar..."

E era assim mesmo, na ausência de tudo, nós inventávamos e reinventávamos todos os dias no nosso quintal, que era um sítio bem pequeno limitado pelos fundos da casa, por uma rede de esgoto, uma cerca do vizinho e o rio Ipojuca. Nossa, nós aprontávamos muito todos os dias, brincávamos de índio, de guerra, de escola, de esconde-esconde, de casinha, de balanço, de inventor... tanta coisa...teve um dia que, imaginamos que havia um intruso que vinha mexer em nossos "brinquedos" à noite e resolvemos fazer uma armadilha. O sítio tinha uma trilha e no lugar onde havia mais mato e pés de banana, resolvemos cavar um buraco bem fundo e encher com lama, daí cobrimos a armadilha com folhas para "pegar" o intruso... e daí que depois de dois dias nada havia acontecido, então praticamente esquecemos dela. No terceiro dia começamos a brincar de correr... minha prima Márcia (filha de tio Zé Alberto) tinha um cachorrinho bem branquinho e bem pequeno chamado Tobby (em homenagem ao Tobby do Balão Mágico) e ele adorava correr atrás da gente, e assim, um a um começou a correr pela trilha e pular a armadilha e nessa estória, Tobby sobrou e pisou bem em cima da armadilha, como ele era pequeno, só ficou com a cabeça de fora gritando... quando olhamos para trás, ninguém aguentou de tanto rir do bichinho... lembro como se fosse hoje, meu primo Marcelo pegando ele pelas duas patinhas e levantando... o bichinho estava todo sujo de lama... e o problema depois disso era: como contar para a minha tia, pois ela havia dado banho nele naquele dia!
O problema era que nós apanhávamos por qualquer coisa, já era normal, não era espancamento, mais umas boas chineladas, beliscões e para os casos mais graves, uma "piza" de cinto básica... mas o interessante disso é que sobrevivemos a tudo isso sem traumas, sem psicólogos e sem bullyng!
Assim, não poderia falar da minha infância sem mencionar o sítio da minha vó no Engenho Barra, lá vivi os melhores e mais intensos dias da minha infância... se o meu quintal era do tamanho do mundo, o sítio para mim era do tamanho do universo diante de tantas possibilidades inimagináveis, mas acima de tudo criativas. Lembro que eu, meus irmãos e vários dos meus primos e primas chegávamos lá no primeiro dia de férias e lá as férias eram mais que perfeitas, detalhe: não havia energia e nem água encanada!
Eu, vó e Enzo ainda bebezinho!
A diferença é que esses pequenos detalhes não eram vistos como problemas, mas como novas possibilidades de brincadeiras. À noite, nada melhor do que fogueira, lua cheia e escuridão para contar estórias de terror, casos estranhos do passado e "causos" inventados. Os contadores de estórias era meus avós e um senhor que agora não me recordo mais do nome, mas que aprendi a gostar de estórias de cordel com ele, pois todas as suas estórias eram rimadas, pois adorava e era um colecionador da literatura de Cordel.
E a falta de água era o melhor motivo para tomar banho de rio, de bica e de "cacimbão" do sítio... um local especialmente reservado para as mulheres por ser bem escondido e nos dando um pouco mais de privacidade!
Era nessa casinha simples que os netos se abrigavam,
hoje fiquei tentando imaginar como cabiam tantos!
Depois de tantas lembranças, não aguentei, fui correndo para casa de voinha hoje, só para vê-la, escutar suas estórias e recordarmos juntas esses dias maravilhosos e, de uma coisa tenho certeza e concordo com  o que minha irmã disse ontem: minha avó tem hoje 91 anos e está passando por essa vida sem reclamar de nada! Digo isso porque por conta da idade, ela já não enxerga mais... no entanto, lembra de tudo e de todos! Por conta da visão ela já não tem mais condições de cozinhar, uma de suas paixões, nem de costurar ou varrer o "terreiro" todos os dias quando acordava às 4 da manhã, e quando acordávamos, já tinha cheiro de café torrado por ela na mesa, comidinha simples, mas extremamente maravilhosa, do jeito que só ela sabia fazer!
 E hoje, como ontem, foi um dia de recordar... e recordar é viver!!!
As galinhas e pintos que sobreviveram à nos!!

Entrada do sítio!

Lembro que no sítio meus avós criavam vacas, cabras, galinhas e patos e é claro que nos dias festivos um desses acabava indo para o fogão e aí que me apaixonei por um pato pois cuidava dele com um carinho todo especial e nesse dia havia chegado a sua hora de ir para a panela... foi um "Deus nos acuda", uma confusão para que ele não fosse morto, mas não teve jeito, minha avó tratou de torcer seu pescoço, imagina a cena que eu vi: ele não havia morrido, acho que ele ficou desmaiado e de repente saiu correndo com o pescoço caído para o lado e minha avó correndo atrás dele. E eu dizia: o bichinho tá vivo, ele tá vivo!
Resposta da minha avó: tira essa menina daqui senão, enquanto ela tiver pena desse pato, ele não morre!
No final das contas: vi o bichinho pela última vez esquartejado no prato dos meus primos na hora almoço! (rsrsrs) Mas sobrevivi!
Em outro momento eu e minhas primas Rosinha e Rosana, fomos as algozes de um pintinho que escolhemos para brincarmos de "cozinhado", ou seja, matamos, limpamos e colocamos na panela para "almoçarmos" quando estávamos brincando de casinha... no final da tarde, minha avó contou os pintinhos e notou a diferença, mas eis a conclusão que ela chegou: deve ter sido raposa ou cobras que pegaram ele... e nós, caladas estávamos e caladas ficamos... só hoje ela descobriu quem tinham sido as raposas e as cobras que devoraram o pintinho (rsrsrs).
São tantas estórias, minhas, dos meus irmãos, dos meus primos, daria até um livro... quem sabe né? memórias da nossa infância simples e feliz!
No entanto, o que me entristece é saber que meus filhos nunca terão uma infância livre e criativa, eles podem até ser felizes, mas tenho certeza que o processo de descoberta do mundo, da criatividade, do improviso talvez eles nunca tenham a oportunidade de vivenciar!
Dandara ainda pequena tomando banho de rio!

Excursão de bike rumo à casa de vó!

A recompensa depois das pedaladas!

Obrigada vó querida por me proporcionar os melhores dias da minha infância, por seu carinho e amor desmedido, por me ajudar a ser a pessoa que sou hoje, pois na sua simplicidade nos deu tantas lições de vida e sobre isso ela me dizia hoje... mas eu sou uma analfabeta...e eu respondia, mas a senhora sabe tanta coisa, me ensinou tanta coisa, curou tantos netos e bisnetos com suas receitas... queria fazê-la entender o quanto é sábia e importante para nós!
Mas tenho certeza que ela sabe o quanto é amada e querida por todos, por isso fiz questão de dizer o quanto  é amada por mim e que ela fez diferença para tornar minha infância mais feliz!



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